Bolsonaro transforma UTI em estúdio de vitimização e grava oficial de Justiça

As imagens de Jair Bolsonaro (PL) explorando a própria fragilidade física, com vídeos de internação, soro na veia, curativos e semblante abatido, que já lhe renderam milhões de interações nas redes, deram lugar — mais uma vez — a um novo capítulo no roteiro bem ensaiado da vitimização política. O personagem do “sobrevivente da facada”, o paciente fragilizado, agora veste o figurino do “perseguido judicial”, mesmo de dentro de uma UTI.

O episódio mais recente dessa narrativa veio com a chegada da oficial de Justiça ao hospital DF Star, em Brasília, para entregar a intimação referente à ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF), na qual Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado. O ato, que deveria ser um simples procedimento legal, foi transformado em espetáculo.

Foram mais de dez minutos de gravação — feita pelo próprio ex-presidente — em que ele registra, passo a passo, a presença da servidora pública, constrangendo-a no cumprimento de sua função. Em vez de apenas receber o documento e dar ciência da intimação, Bolsonaro preferiu capitalizar politicamente a situação, filmando o ato como quem monta uma cena planejada para reforçar sua velha narrativa: a de um homem perseguido por um sistema que, segundo ele, tenta destruí-lo.

A cena não é isolada. Desde a internação para a última cirurgia, a Unidade de Terapia Intensiva do ex-presidente tem funcionado muito mais como espaço de movimentação política e gravações de campanha do que como local de recuperação médica. Visitas de parlamentares, lives, entrevistas, selfies, vídeos editados para redes sociais: a UTI virou um estúdio.

A crítica de Bolsonaro, ao reclamar que o prazo para sua defesa começou a ser contado enquanto ele está internado, esbarra em outra contradição: sua própria decisão de aparecer publicamente, ativo, comunicando-se em transmissões ao vivo, sorrindo para fotos ao lado de políticos e até participando de entrevistas. Se há condições para dar entrevistas, há condições para ser formalmente citado — e foi isso que o STF considerou ao autorizar a intimação.

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