O pontificado do Papa Francisco, encerrado com sua morte aos 88 anos nesta segunda-feira (21), foi marcado por um posicionamento claro em favor da inclusão social e do acolhimento às minorias. Ao longo de 12 anos à frente da Igreja Católica, Francisco rompeu com discursos tradicionalistas, aproximando o Vaticano de pautas contemporâneas e se tornando, por isso, alvo frequente de críticas de grupos da extrema-direita.
Uma das declarações mais emblemáticas ocorreu em entrevista concedida em 2023, quando afirmou: “Ser homossexual não é crime”. Na ocasião, o pontífice também reconheceu que, em diversas partes do mundo, bispos ainda apoiam leis que criminalizam a homossexualidade ou promovem discriminação contra a população LGBT+. Ao mesmo tempo em que reafirmava os ensinamentos da Igreja, Francisco também destacava que qualquer julgamento ou exclusão vai contra o princípio cristão do acolhimento.
Sua abordagem gerou desconforto em setores mais conservadores da Igreja, especialmente por promover o debate em torno de temas como união civil entre pessoas do mesmo sexo, maior participação das mulheres em estruturas eclesiásticas e a revisão de algumas práticas pastorais em relação a divorciados e fiéis em situações consideradas “irregulares” pela doutrina tradicional.
Ao longo de seu papado, o líder da Igreja Católica nomeou mais da metade dos atuais cardeais, escolhendo perfis que, em geral, compartilham de sua visão pastoral e social. Suas nomeações priorizaram a representatividade global, com destaque para líderes religiosos comprometidos com o combate à pobreza, o respeito às diferenças e a proteção ambiental.
O posicionamento de Francisco também se refletiu em sua diplomacia ativa: buscou diálogo com outras religiões, especialmente com líderes muçulmanos, e defendeu as comunidades católicas em áreas de conflito. Internamente, procurou reformar estruturas da Cúria Romana e enfrentou casos de abuso sexual na Igreja com medidas mais transparentes e disciplinares.
Apesar das limitações impostas pela saúde nos últimos anos, Francisco manteve firme sua atuação em prol de uma Igreja mais aberta, próxima dos que sofrem e consciente dos desafios atuais da humanidade.
Seu legado, a partir de agora, será tema de debates intensos entre os cardeais que definirão o próximo papa — com a missão de decidir entre a continuidade do caminho de transformação ou o retorno a um modelo mais doutrinário.