análise

Tibério Limeira e o exercício da política com pé no chão

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Maurílio Júnior

Em tempos de disputas virtuais, discursos performáticos e curtidas valendo mais que propostas, há figuras que, mesmo sem holofotes permanentes, mantêm certa coerência entre discurso e prática. Tibério Limeira, atual secretário de Administração do Estado, parece se encaixar nesse perfil — e a entrevista concedida ao programa Hora H, com Heron Cid, foi um bom retrato disso.

Sem arroubos ou frases prontas, Tibério apresentou uma visão de política que vai na contramão do imediatismo dominante. Defendeu o diálogo como ferramenta essencial da gestão pública e fez questão de relembrar suas origens nas plenárias do Orçamento Democrático — um espaço coletivo de escuta e construção de prioridades a partir do olhar da população. É uma lembrança que não vem por acaso: em tempos de decisões verticais, ouvir tem se tornado um ato quase subversivo.

Durante a entrevista, ele citou programas como o Tá na Mesa, voltado ao enfrentamento da insegurança alimentar na pandemia, e a ampliação da rede de apoio a pessoas com autismo na Paraíba. Ambos são bons exemplos de como a política pública pode, de fato, sair do discurso e se tornar serviço concreto — algo nem sempre comum no cotidiano da máquina estatal.

Há, também, um simbolismo no fato de Tibério ocupar uma posição relevante sem carregar um sobrenome político tradicional. Isso, por si só, não é virtude — mas em um ambiente onde laços familiares ainda funcionam como passaporte para cargos e eleições, é uma quebra de padrão que merece ser registrada.

O que chama atenção, no entanto, não é exatamente o currículo ou a lista de realizações, mas a forma como ele encara a política: como instrumento de transformação, e não como plataforma pessoal ou palco de vaidades. Isso pode parecer básico, mas não é trivial.

É claro que toda narrativa carrega intenções. Toda fala pública — especialmente de quem ocupa cargo de confiança — tem uma estratégia. Mas há diferença entre a construção de imagem e o culto à personalidade. E, no caso de Tibério, o que se vê é alguém que tenta sustentar uma postura técnica e socialmente comprometida, sem recorrer a atalhos midiáticos.

A política brasileira carece de figuras que entendam que legitimidade se conquista com entrega, escuta e consistência. Não se trata de idealizar perfis, mas de observar com atenção os poucos que insistem em manter os pés no chão enquanto constroem política pública com alguma dose de sobriedade.

Tibério não é o único — mas, no cenário atual, é uma presença que ajuda a lembrar que há espaço para política com menos espetáculo e mais consequência.