Foi inaugurado na última sexta, em João Pessoa, um importante equipamento público cultural em homenagem à memória da Paraíba. Dentro de um prédio que nasceu alguns meses depois da sempre intranquila paz entre portugueses e indígenas que ficou, pelo menos para a história, como marco da concepção do que seria esta terra em que tenho prazer de nela viver, escrever, torcer, tocar samba e forró, amar e sofrer. Foi em 1586, um ano depois do citado tratado, que os Jesuítas construíram o prédio para abrigar cristãos dessa ordem em tempos de colonização.
O prédio tinha mesmo vocação para o poder. Séculos depois viria a ser a residência dos capitães-mores que por aqui mandaram em tempos de Monarquia. Depois foi a vez do Império fazer daquela construção a sua casa, abrigando mandatários amigos do imperador, os presidentes da província, até que a República venceu como venceu e fez da residência a casa oficial de alguns governadores do Estado.
Num Brasil que passa por uma crise existencial sobre qual presente quer para o futuro, flertando ainda com um passado pela frente, o Governo da Paraíba faz do atual Palácio da Redenção uma escolha que se amalgama com seu nome. Vira museu no que eu diria ser a melhor serventia da sua história, em uma Paraíba ainda pouco afeita a preservar e conhecer o seu passado. Nasce em 2025 o Museu da História da Paraíba.
Mas por que danado o colunista está falando de museu, de política e de poder em um espaço na editoria esportiva do Jornal A União, que, por sinal, é grande vanguarda da preservação do que se deu por essas terras desde 1893. É que foram naquelas imediações do atual Palácio da Redenção onde também nasceu o futebol paraibano.
Os primeiros passos e passes na então Parahyba do Norte se deu justamente onde também a cidade foi concebida. Nas proximidades do palácio e da Praça Venâncio Neiva, onde hoje temos o Pavilhão do Chá. Bem possivelmente próximo de onde hoje se localiza a praça que leva o nome da Capital havia um dos primeiros campos de futebol.
Provavelmente por descuido Walfredo Marques, que estará sempre perdoado em face de ser ele o grande memorialista do futebol paraibano e a quem nós, que valorizamos futebol e história, devemos sempre exaltar, relatou, sem mais explicações, que foi na Praça da Independência onde houve alguns dos primeiros jogos de futebol na cidade na década de 1910. O que gerou uma série de reproduções equivocadas como se o palco do futebol fosse a atual Praça de Independência.
Acontece que não havia Praça da Independência naquela década. Ou melhor, havia. Mas não aquela, próxima ao fim — ou início — da Avenida Epitácio Pessoa e que espia diariamente o Colégio Marista Pio X, inaugurada apenas em 1922 no centenário da independência.
Aquela praça, no Tambiá, foi feita na terra do ex-prefeito Guedes Pereira, que cedeu o espaço à municipalidade para que lá fosse construído aquele espaço social. A Praça da Independência do futebol, no entanto, foi outra.
E aí, mesmo em tempos de Google, não consegui por anos, por meio do ambiente digital, desvendar o mistério de onde aconteciam os primeiros ensaios e pelejas de nosso futebol, a partir do momento que soube que a atual Praça de Independência era da década de 1920. Recorri então a outro grande paraibano que merece todas as homenagens por ter sido um desses importantes, mas ainda acho que poucos, guardiões da história paraibana. Depois de muito tempo e frustrações, descobri que houve uma Praça da Independência anterior. Foi no cartográfico livro “Roteiro sentimental de uma cidade”, de Walfredo Rodriguez.
Abraçado pelas linhas do segundo Walfredo encontrei a Praça da Independência misteriosa. Era no Largo do Palácio. Que depois virou Jardim Público. Que depois se transformou em Praça Comendador Felizardo, homenageando por último e até hoje o mártir precoce da Revolução de 1930. Foi ali próximo que se fez o campo do America Foot-Ball Club, time do qual Rodriguez foi jogador. Foram ali muitos dos primeiros jogos de futebol e o primeiro jogo entre clubes diferentes, disputado entre America e Parahyba United. Mas essa história eu conto outro dia, afinal o passado constrói museus e os museus sempre nos trazem novidades, como há de ser no novo museu do palácio.
Publicado no Jornal A União de 5 de outubro de 2025