Os recentes movimentos de Nabor Wanderley (Republicanos), buscando apoio de setores da oposição campinense ao governador João Azevêdo (PSB), somados às articulações de Veneziano Vital do Rêgo (MDB) — que já conseguiu atrair prefeitos ligados ao Palácio da Redenção —, provocaram uma leitura curiosa de um assessor palaciano sobre o momento político.
A frase foi dita após João desconfiar do apoio do prefeito de João Pessoa Cícero Lucena (sem partido), que rompeu com a base, e cobrar fidelidade do PSB, incluindo o vice-prefeito Leo Bezerra, ao nome de Lucas Ribeiro, do Progressistas:
— João é sério demais para os tempos atuais da política. Parafraseando uma velha frase sobre Carlos Lacerda, ele quer interpretar Shakespeare na terra de Nairon Barreto.
A referência remete ao episódio em que o irmão de Carlos Lacerda, ao ver o político em greve de fome durante a ditadura, tentou convencê-lo de que o país seguia a vida normalmente, ignorando seu sacrifício.
“Carlos, que é que você quer? Fazer o Shakespeare na terra da Dercy Gonçalves? Lá fora está um sol lindíssimo, todo mundo está na praia, ninguém está acompanhando sua prisão nem sabendo que você está em greve de fome! Deixa de bobagem”. Coincidência ou não, fim da greve.
A mensagem era simples: não adianta dramatizar onde reina o pragmatismo popular. Pois bem: João Azevêdo, ao recusar um apoio isolado de Cícero, age como quem exige um alinhamento total à chapa, onde o voto só tem validade se for para ele, para Lucas Ribeiro ao governo e para Nabor Wanderley ao Senado.
Um gesto de fidelidade quase poética — ou purista. Só que o cenário político de 2026 não é palco para tragédias elisabetanas. Nabor, por exemplo, foi à Campina Grande no dia seguinte e afirmou, com todas as letras, que “voto não se rejeita”.
Disse ainda que seria uma alegria ter o apoio do prefeito Bruno Cunha Lima, mesmo este sendo opositor a João Azevêdo e já tendo declarado voto em Veneziano ao Senado.
Enquanto João descarta o apoio de Cícero por não ser “completo”, seus aliados não seguem o mesmo roteiro.
Parte dos prefeitos do PP, partido do próprio vice-governador Lucas Ribeiro, que será o maior beneficiado com a saída de João do governo, já declarou apoio a Veneziano — e outros caminham com Nabor, mas sem João.
No fundo, o governador parece ter aberto mão do maior aliado da capital por um romantismo político que exige voto fechado na sua chapa – e pelo menos aqui neste texto não faço análise do mérito.
Mas como disse o assessor: João quer ser Shakespeare — numa política cada vez mais sem pudor. Nairon Barreto explicaria melhor.