O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), liderou uma nota pública assinada por autoridades brasileiras que integraram a viagem oficial de prefeitos a Israel, em resposta a uma nota do Ministério das Relações Exteriores, que afirmou que os gestores ignoraram uma orientação de não viajar ao país.
O documento, divulgado nesta terça-feira (18), foi assinado por prefeitos e vice-prefeitos que participaram da agenda internacional organizada com apoio do governo israelense. Eles expressam “profundo desacordo e surpresa” com o conteúdo do comunicado do Itamaraty, e classificam o tom como “uma reprimenda” em meio a uma operação de resgate sob forte tensão no Oriente Médio.
“O momento exige responsabilidade, unidade nacional e compromisso com a verdade”, destacou a delegação no documento redigido em Tabouk, na Arábia Saudita.
A nota reforça que a missão foi informada previamente à representação diplomática brasileira em Tel Aviv, o que contraditaria o posicionamento oficial emitido pelo governo brasileiro.
Após dias de incerteza e deslocamentos por áreas de risco, Cícero Lucena já está em processo de retorno ao Brasil. Ele deixou Israel por via terrestre, cruzando a fronteira até a Jordânia, e se deslocou para a Arábia Saudita, onde embarcou em um avião fretado pelo empresário Roberto Santiago, dono dos shoppings Manaíra e Mangabeira, em João Pessoa.
A previsão é de que o grupo, composto por outras autoridades brasileiras, desembarque no Brasil nesta quarta-feira (18).
Veja a nota completa:
Delegação Brasileira em Missão Oficial a Israel
Nós, prefeitos, vice-prefeitos e demais autoridades públicas que integram a delegação brasileira em missão oficial a Israel, vimos a público manifestar nosso profundo desacordo e surpresa com a NOTA À IMPRENSA Nº 269 do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). A referida nota afirma que o governo brasileiro não tinha conhecimento da missão e que esta teria ocorrido em desacordo com recomendações consulares emitidas em 2023.
Tal declaração contradiz frontalmente o que foi afirmado à própria delegação em reunião online com a representação diplomática brasileira em Tel Aviv, realizada no último sábado, 14 de junho. Nessa ocasião, os diplomatas confirmaram ter sido devidamente informados, com antecedência, sobre a missão, particularmente no que diz respeito à segunda comitiva de prefeitos e a um governador, informação esta repassada pelo consórcio de municípios organizador da viagem. Se a representação diplomática foi previamente avisada, como reconheceram seus próprios representantes, questionamos a ausência de qualquer advertência formal ou impedimento à realização da missão.
Causa-nos ainda maior estranhamento o fato de que um país com o qual o Brasil mantém relações diplomáticas convide oficialmente autoridades públicas brasileiras — por meio de uma agenda organizada com o apoio direto do governo de Israel — sem que o Itamaraty e a nossa representação diplomática naquele país tivessem conhecimento do fato. Mais grave ainda é que, em meio a um cenário de guerra, quando autoridades brasileiras — eleitas e em pleno exercício de suas funções — se encontram sob risco e buscam o apoio de seu país, recebam como resposta um comunicado que mais se assemelha a uma reprimenda do que a uma manifestação de solidariedade e proteção.
Reiteramos que nossa missão se deu com propósito institucional e de boa-fé, conforme as normas republicanas, com agenda oficial e objetivos públicos. O momento exige responsabilidade, unidade nacional e compromisso com a verdade.
Ao mesmo tempo em que manifestamos nosso repúdio ao teor e ao momento da nota emitida pelo Itamaraty, reconhecemos e agradecemos o valioso apoio que nos tem sido prestado pelas equipes diplomáticas brasileiras e dos governos locais em Tel Aviv, na Jordânia e na Arábia Saudita, cuja atuação humanitária tem sido essencial para garantir, com segurança, a remoção da delegação da zona de conflito, ainda em curso.
Tabouk, Arábia Saudita, 17/06/2025
Delegação Brasileira em Missão Oficial a Israel