A defesa do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), pelo uso de pesquisas como critério para definição do candidato da base governista em 2026 acontece em paralelo a uma movimentação que vai além do discurso: ele tem intensificado viagens pelo interior da Paraíba e buscado proximidade com lideranças políticas dos municípios.
Nos últimos dias, Cícero esteve em Serra Branca e Belém, e tem mantido uma agenda constante fora da capital. A estratégia segue um modelo já conhecido na política paraibana: em 2022, o hoje senador Efraim Filho (União Brasil) adotou postura semelhante ao percorrer o estado meses antes do período eleitoral.
Na época, Efraim disputava internamente com o deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) o apoio do governador João Azevêdo (PSB) para o Senado. Apesar de se manter na base por um período, Efraim não teve a confirmação do apoio do Palácio da Redenção, rompeu com o grupo e acabou se elegendo senador pela oposição. Já Aguinaldo, que contava com a simpatia do governador, acabou não entrando na disputa.
O movimento atual de Cícero Lucena, portanto, é visto como um sinal claro de que o prefeito se prepara com antecedência, buscando consolidar seu nome de forma competitiva, inclusive junto ao interior — onde já é bastante conhecido.
Ao pedir que pesquisas eleitorais definam o nome da base, Cícero também tenta evitar conflitos internos, mas coloca em pauta a necessidade de uma definição objetiva e, sobretudo, consensual.
Algumas pesquisas já apontam o prefeito como favorito em cenários testados para a sucessão estadual.
Esse contexto, se confirmado nos próximos meses, pode colocar João Azevêdo diante de um cenário delicado. Caso Cícero consiga consolidar essa musculatura política e manter a dianteira nas intenções de voto, o governador e seu núcleo político terão o desafio de, lá na frente, administrar uma eventual negativa de candidatura a quem já terá se fortalecido — o que exigirá habilidade política para evitar desgastes internos ou a repetição do que ocorreu na disputa pelo Senado.
A defesa de Cícero pelo critério da pesquisa, embora pareça sinal de busca por consenso, também reforça o seu projeto e impõe à base governista a necessidade de um alinhamento claro sobre a sucessão, para que o grupo não corra o risco de rachar novamente, como em 2022.
Para o governador João Azevêdo, o cenário exige atenção. A falta de alinhamento sobre o nome ao Senado em 2022 provocou um racha na base aliada. O desafio agora é evitar que a história se repita.