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SAF do Botafogo-PB tenta emplacar narrativa fantasiosa para justificar preços altos contra o Flamengo

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Torcidas de Botafogo-PB e Flamengo (Fotos: Maurílio Júnior / direitos reservados)
Maurílio Júnior

Não há dúvidas de que o confronto entre Botafogo-PB e Flamengo pela terceira fase da Copa do Brasil, previsto para acontecer no dia 30 de abril em João Pessoa, será um evento de enorme mobilização na Paraíba. A presença do clube carioca atrai olhares nacionais e transforma a partida em um espetáculo único para cidade. No entanto, o que chama atenção nas últimas semanas não é o jogo em si, mas a forma como seus bastidores vêm sendo conduzidos, especialmente por parte de representantes da SAF do Botafogo.

Na tentativa de justificar os valores que deverão ser cobrados pelos ingressos, que certamente serão muito acima da média habitual para jogos no Almeidão, um dos investidores do clube, o empresário Filipe Felix, afirmou que o Botafogo-PB teria recusado uma proposta de R$ 6 milhões para vender o mando de campo e levar o jogo para outra praça esportiva. A cifra, no entanto, soa completamente desproporcional diante do mercado atual — e, mais que isso, parece fazer parte de uma estratégia retórica para preparar o público para preços elevados.

Basta um dado simples para desmentir a grandiosidade dessa versão: a maior renda do Flamengo em um jogo realizado fora do Rio de Janeiro aconteceu em julho do ano passado, diante do Criciúma, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. A arrecadação total foi de R$ 6,6 milhões.

Portanto, a ideia de que alguém pagaria R$ 6 milhões antecipadamente apenas para sediar o jogo soa inverossímil. O objetivo óbvio de quem investe em um jogo desse porte é obter lucro, e para isso, a expectativa de bilheteria teria que superar com folga os R$ 6 milhões. E mesmo com o apelo do Flamengo, isso está longe de ser garantido.

É compreensível que o Botafogo-PB queira aproveitar o momento para gerar receita — e o jogo com o Flamengo, de fato, justifica uma precificação diferenciada. Mas o problema está na narrativa fantasiosa que tenta se sustentar com números improváveis. Fala-se ainda em outras propostas de R$ 4 milhões, todas supostamente recusadas. Sem comprovação documental, essas versões servem apenas para inflar expectativas e criar uma justificativa prévia para uma cobrança pesada sobre os torcedores.

O público, que deve lotar o Almeidão, merece transparência. O torcedor sabe que um jogo como esse é raro, que há custos envolvidos, que os ingressos terão valor mais alto — mas não precisa ser convencido com histórias superestimadas. Basta apresentar os fatos, assumir a valorização natural do evento e tratar o torcedor como parte da construção, não como um obstáculo a ser convencido a qualquer custo.