O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que seu partido e lideranças bolsonaristas pretendem aumentar a pressão sobre o presidente da Câmara, o paraibano Hugo Motta (Republicanos), para que ele coloque em pauta o projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A principal estratégia seria realizar uma manifestação em João Pessoa, em uma tentativa clara de constranger o deputado no estado que o elegeu.
A chantagem revela mais do desespero político do bolsonarismo do que de uma estratégia sólida. Constranger Hugo Motta em solo paraibano pode ser um tiro no pé. A Paraíba, como se sabe, é um dos estados nordestinos onde o presidente Lula (PT) venceu em todos os municípios nas eleições de 2022. Em João Pessoa, embora a diferença tenha sido apertada, o petista também saiu vitorioso. Isso significa que, do ponto de vista eleitoral, a base bolsonarista não representa maioria nem na capital, nem no interior.
A tentativa de associar a imagem de Hugo Motta à anistia dos golpistas também esbarra em um passado recente do próprio deputado. Em entrevista, Motta afirmou que os atos de 8 de janeiro, que destruíram as sedes dos Três Poderes, “não caracterizariam um golpe”. A fala foi mal recebida, inclusive por aliados. Se há algo que de fato causou constrangimento ao parlamentar, foi essa declaração, não sua resistência em pautar o projeto de anistia.
O verdadeiro constrangimento, neste caso, não é deixar de atender aos pedidos do PL, mas ceder a uma narrativa que não encontra eco entre os eleitores paraibanos. Caso Hugo Motta venha a pautar a anistia, será ele quem terá de lidar com o desgaste de ter sido o nome que reabilitou, politicamente, os responsáveis por um dos episódios mais graves da história recente do país. Olhar nos olhos dos eleitores e explicar tal decisão seria, aí sim, um constrangimento real.
Ao tentar pressionar o deputado com atos em João Pessoa, lideranças bolsonaristas ignoram o fato de que o Nordeste tem mostrado, de forma consistente, um posicionamento contrário à anistia. A Paraíba não é exceção. E tentar usar o estado como palco de chantagem simbólica talvez só reforce a imagem de que o bolsonarismo ainda não entendeu as urnas de 2022.