Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia passearam de jet ski em Angra dos Reis (RJ) durante o feriado de Carnaval. Até aí, nada de incomum para figuras públicas que já demonstraram apreço por momentos de lazer. O detalhe que chama atenção é que, ao mesmo tempo em que aproveita dias de descanso no litoral, Bolsonaro continua alimentando a retórica de que é um perseguido político, vivendo sob o peso de uma “ditadura” implacável no Brasil.
Bolsonaro repete constantemente que “o sistema” está contra ele. “Não tenho um minuto de sossego. Estou lutando contra o sistema.” Mas, se isso fosse verdade, como ele conseguiria desfrutar de férias tranquilas, passeios públicos e apoio irrestrito de aliados sem sofrer restrições reais?
As ditaduras reais, das quais a América Latina teve exemplos concretos, a exemplo da ditadura militar no Brasil, não concediam esse tipo de liberdade a seus opositores. Na Argentina, no Chile e no próprio Brasil durante os anos de chumbo, perseguidos políticos eram presos, torturados e mortos. Suas vidas eram interrompidas por regimes que eliminavam dissidências, censuravam a imprensa e impediam qualquer manifestação contrária ao governo de plantão.
Bolsonaro, por outro lado, mantém acesso irrestrito às redes sociais, participa de eventos políticos, concede entrevistas e tem apoiadores influentes que amplificam sua narrativa sem qualquer tipo de censura. A comparação entre sua situação e um regime ditatorial não se sustenta diante da realidade.
Se Bolsonaro realmente estivesse sob um regime autoritário, sua rotina não incluiria passeios de jet ski, encontros públicos e declarações sem consequências diretas. A verdade é que a construção da imagem de “perseguido” funciona como uma estratégia política para manter mobilizada sua base de apoiadores, que acredita fielmente em sua versão dos fatos.
Ao contrário das vítimas de ditaduras reais, o ex-presidente não está encarcerado, não sofre torturas físicas e não teve seus direitos políticos cassados de maneira arbitrária. Ele enfrenta processos na Justiça, mas dentro das regras do Estado Democrático de Direito, com direito à ampla defesa e recursos.