O usuário do transporte público em João Pessoa, especialmente em um dia como o de hoje, com a paralisação parcial de motoristas que reivindicam reajuste salarial e vale alimentação, não pode deixar de se perguntar: para onde está indo uma das tarifas mais caras do Brasil, agora acrescida para R$ 5,20? Esse aumento, que entrou em vigor nesta semana, não é acompanhado de melhorias significativas no serviço. Pelo contrário, a insatisfação dos passageiros se manifestou de forma mais evidente hoje, quando a paralisação causou transtornos a milhares de pessoas que dependem do transporte coletivo para se deslocar pela cidade.
O desabafo de uma passageira, que relatou as dificuldades diárias de conciliar trabalho e cuidados com a filha, ilustra de maneira clara o impacto direto que a falta de qualidade no transporte público tem na vida das pessoas. “Tenho que deixar minha filha com a avó para trabalhar. Tenho responsabilidades e é bem complicado. A gente paga um preço absurdo e, mesmo assim, enfrenta tudo isso. Nem avisaram para a gente se programar. Cadê o respeito com o cidadão?”, disse ela, expressando a frustração e o abandono de quem paga caro por um serviço que não corresponde à expectativa mínima de qualidade.
Esse relato é apenas um reflexo de um problema maior que persiste há anos em João Pessoa: a frota sucateada, a superlotação e a falta de organização no sistema de transporte. Apesar dos esforços da Prefeitura, como a compra de novos ônibus e a implementação de linhas mais confortáveis, como o ‘Geladinho’, com Wi-Fi e ar-condicionado, o sistema ainda é amplamente considerado insuficiente. O que deveria ser um serviço essencial, eficiente e acessível se transforma, na prática, em um desafio diário para os cidadãos.
O aumento da tarifa e a paralisação de hoje evidenciam um paradoxo que não pode ser ignorado: o valor pago pelos passageiros não reflete a qualidade do serviço prestado. A população se vê diante de um sistema caro, que não oferece conforto, pontualidade ou condições adequadas de uso. Seria necessário o Sintur (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros) responder sobre o destino da arrecadação das tarifas.