A decisão do prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (União Brasil), de exonerar servidores comissionados logo no início de seu segundo mandato levanta questões que vão além da mera gestão administrativa. A narrativa oficial tenta enquadrar o ato como um procedimento normal, mas a realidade dos fatos sugere um movimento motivado por pressões financeiras e fiscais que se acumularam ao longo de sua gestão. É importante contextualizar que, durante a campanha eleitoral, já se sabia da necessidade de ajustes na folha de pagamento da Prefeitura, amplamente alertada pelo Tribunal de Contas do Estado da Paraíba.
Entenda: Com folha inchada e salários atrasados, Bruno Cunha Lima exonera comissionados e secretários
Os sinais de desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal não são novos e foram ignorados até o ponto de causar atrasos no pagamento de salários, dificuldades para quitar o 13º salário e dependência de recursos federais para sustentar setores essenciais, como a saúde. A medida, portanto, não pode ser analisada isoladamente ou como um gesto de renovação administrativa típico de início de mandato. Ela revela, antes, a urgência de conter um desequilíbrio fiscal que foi, em parte, instrumentalizado para garantir a reeleição. Um doping eleitoral.
Ao comparar a postura de Bruno Cunha Lima com outros prefeitos reeleitos, como Cícero Lucena, em João Pessoa, e Nabor Wanderley, em Patos, percebe-se uma diferença significativa. Ambos optaram por manter a estrutura administrativa sem grandes rupturas, mesmo iniciando novos mandatos. Isso evidencia que a decisão de Campina Grande não segue um padrão administrativo protocolar, mas sim responde a uma crise específica que se arrastou ao longo do primeiro mandato de Bruno.
Ao se reeleger, o prefeito assumiu o desafio de liderar um governo de continuidade, mas a exoneração em massa demonstra uma tentativa de correção tardia e forçada de problemas que poderiam ter sido enfrentados com maior planejamento e transparência. Essa decisão, além de afetar diretamente a máquina pública, sinaliza para a população e para os servidores um governo que precisa, com urgência, resgatar a confiança em sua capacidade de gestão.
Diante disso, é impossível classificar o ato como uma mera formalidade. Ele reflete um esforço reativo para lidar com uma crise fiscal e administrativa que se agravou, mesmo com os constantes alertas do Tribunal de Contas. Em vez de um gesto de renovação ou organização, a exoneração expõe as fragilidades de uma gestão que precisa, nos próximos quatro anos, provar que pode equilibrar as contas públicas sem sacrificar a eficiência dos serviços prestados à população.