Em uma reunião de 2020 na qual discutiu formas de tentar livrar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de investigação da Receita Federal sobre supostos desvio de parte dos salários dos funcionários do gabinete dele na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) enquanto ele era deputado estadual, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sugeriu às advogadas do filho conversar com o então secretário da Receita, José Barroso Tostes Neto, para anular relatórios produzidos pelo órgão contra Flávio.
No diálogo –gravado clandestinamente pelo então Chefe da Abin e hoje deputado federal Alexandre Ramagem — com a defesa do senador, o ex-presidente também prometeu levar o tema ao ex-presidente da Dataprev, Gustavo Canuto. “Vou conversar com ele sozinho”, disse Bolsonaro.
“Ninguém tá pedindo favor aqui. É o caso conversar com o chefe da Receita? O Tostes”, disse Bolsonaro. Na reunião, estavam presentes duas advogadas de Flávio, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, o ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Augusto Heleno e o ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem.
A sugestão de conversar com Canuto surgiu após as advogadas de Flávio pedirem que o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) investigasse os acessos de auditores da Receita aos sistemas do órgão para a produção de RIFs (Relatórios de Inteligência Financeira) contra Flávio.
Segundo elas, os responsáveis pela investigação do senador teriam elaborado os relatórios de forma ilegal, e uma eventual investigação do Serpro conseguiria identificar as supostas irregularidades para cancelar as provas feitas contra o senador.
“É o zero um dos caras. Era ministro meu e foi pra lá. Sem problema nenhum. Sem problema nenhum conversar com ele. Vai ter problema nenhum conversar com o Canuto”, disse Bolsonaro.
“Vou conversar com ele sozinho. Tá certo? E, deixar bem claro, a gente nunca sabe se alguém tá gravando alguma coisa. Que não estamos procurando favorecimento de ninguém”, completou.
A gravação da reunião tem uma hora e oito minutos de duração e foi obtida pela Polícia Federal. Nesta segunda-feira (15), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes retirou o sigilo sobre a gravação e divulgou a transcrição do áudio.
De acordo com a corporação, Ramagem afirmou na reunião que seria preciso instaurar “procedimento administrativo contra os auditores, com o objetivo de anular as investigações, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.