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Filho de Olavo de Carvalho é acusado de estuprar quatro mulheres

Publicado em mauriliojunior.com

Tales de Carvalho, filho de Olavo de Carvalho
Por iG

Quatro mulheres, incluindo ex-esposas e filhas de Tales de Carvalho, filho do renomado escritor Olavo de Carvalho e co-proprietário do Instituto Cultural Lux et Sapientia (ICLS), revelaram à coluna de Guilherme Amado no Metrópoles experiências devastadoras de estupro, tortura física e psicológica que teriam ocorrido ao longo de mais de duas décadas. As denúncias lançam luz sobre um cenário de sadismo e crueldade dentro do instituto, descrito pelas vítimas como uma espécie de seita.

Calinka Padilha de Moura, uma das ex-mulheres de Tales, juntamente com suas filhas Julia Moura de Carvalho e Ana Clara Moura de Carvalho, compartilharam relatos perturbadores de abusos, incluindo a formação de um ambiente controlador e a utilização do ICLS para a captação de recursos e novas esposas. Segundo as denunciantes, o ICLS não serviria apenas como um centro educacional, mas também como um espaço para exploração financeira e sexual por parte de Tales de Carvalho.

O caso de Tales ganhou destaque em março deste ano, quando uma decisão judicial envolvendo uma estudante de Goiás expôs suas práticas controversas. A jovem foi localizada na fronteira com o Paraguai, sob a guarda de outro filho de Olavo de Carvalho, após uma mobilização policial internacional promovida pela família.

Além das denúncias de abuso, as mulheres descreveram um ambiente de culto ao redor de Tales e seu irmão Luiz Gonzaga de Carvalho, conhecido como Gugu, figura influente no ICLS. O instituto oferece cursos que abrangem desde temas esotéricos como astrologia até leituras de autores clássicos. As denunciantes afirmam que o ICLS era usado por Tales para atrair “benfeitores” que contribuíam financeiramente, além de potenciais esposas, algumas das quais teriam sido coagidas a se casar com ele.

As práticas descritas pelas vítimas incluem agressões físicas e métodos de tortura, supostamente justificados por preceitos religiosos distorcidos, apesar de não terem base no islamismo verdadeiro, segundo especialistas consultados.

Calinka de Moura relata um período de dois anos e meio de agressões sistemáticas e tortura, frequentemente acompanhadas por sua filha mais velha e outras esposas de Tales. Ela descreveu momentos de intenso sofrimento físico e emocional, incluindo o uso de vídeos de abuso infantil para atormentá-la antes de ser agredida.

Luiz Gonzaga de Carvalho, o Gugu, irmão de Tales, é visto como “guru” do instituto que chega a faturar até R$ 100 mil mensais com assinaturas e vendas de cursos respaldados pelo mentor Olavo de Carvalho. Mas o ICLS, segundo elas, não serviria a Tales somente para captar dinheiro, mas também esposas. Sim, no plural.

Tales teve quatro esposas ao mesmo tempo sobre o teto. Com cerca de quatro anos de casamento, de acordo com Calinka, Tales comunicou que pretendia ter uma segunda esposa: uma criança de 12 anos. Tales enviou nota ao Metrópoles alegando que ela tinha, na verdade, 14 anos. A menina era enteada da mãe de Tales, Eugênia.

Em 2003, Tales enviou um e-mail a Calinka em que Tales menciona “algo muito forte” que sentia pela garota. Veja o texto obtido pela coluna:

“[….] Embora você saiba que eu te amo mais que tudo (sic) eu não posso negar que eu sinto algo forte por ela, eu sei que é difícil para uma mulher compreender isto, por isso eu não espero que você me perdoe e me compreenda. Eu tive varias visões e sonhos aqui sobre este assunto. […] Nestas visões varias (sic) pessoas apareciam tendo um destino glorioso inclusive (sic) você, eu, [a moça com 14 anos na época, cujo nome a coluna, por entender que ela até hoje é uma potencial vítima, decidiu não informar], [pai da moça com 14 anos na época], e pasme, minha mãe. Portanto, não tenha maus sentimentos com relação à [moça com 14 anos na época] e minha mãe, você sempre será superior a elas para Allah e para mim”, escreveu Tales a Calinka em um trecho do e-mail.

Em 2006, Tales pediu para levar a menina, então com 16 anos, para casa, o que fez com que Calinka optasse por uma separação amigável. No entanto, cerca de um mês depois, no começo de 2007, Tales pediu o divórcio por telefone — mas teria que ser sob os preceitos islâmicos, ou seja, Calinka deveria ficar quatro meses sem ter relações com ele ou outros homens.

Após se separar de Tales, Calinka começou a trabalhar em um salão de beleza, frequentar festas e namorar. Tales tentou reconciliar-se após ela se tornar independente, ameaçando não deixar as filhas voltarem para Curitiba se não reatassem. Após um mês de resistência, Calinka cedeu, eles se casaram novamente em agosto de 2007 e começaram a viver juntos com as filhas e uma nova esposa de Tales.

“Inferno”

Após reatar o relacionamento, Calinka conta ter sido o início do seu “inferno”: dois anos e meio de agressões e torturas constantes. As torturas começaram em agosto de 2007 e terminaram no fim de 2009. Além das agressões, ele passou a urinar no corpo da mulher para evitar deixar marcas.

“Ardia que nem fogo. Ele disse que havia pesquisado que o fio de telefone no corpo molhado era bom porque doía mais e não deixava marca”, lembra, citando ainda atos como ameaçar arrancar seu clitóris com uma lâmina ou quebrar com um martelo os ossos de sua perna. Ao mesmo tempo ele a estuprava sequencialmente.

A outra esposa, na época já maior de idade, também era agredida com fio de telefone, em retaliação por uma suposta traição cometida quando ela tinha 17 anos e descoberta por Tales de Carvalho. As duas mulheres chegaram a ser torturadas juntas.

Tales justificava as atitudes na religião islâmica. Segundo Calinka, ele teria marcado mãos e pés das duas esposas com uma faca. Em 2021 ela saiu de casa e disse que as demais esposas também tinham marcas de tortura.

As agressões costumavam ser alternadas, hora com uma mulher, hora com outra, no entanto, elas descobriram que ao engravidar o homem interrompia as violências físicas. O próprio foi quem disse que pararia de agredi-las sistematicamente caso engravidassem. Esse seria um sinal de que Deus as havia “perdoado”. Calinka propositalmente, então, engravidou da terceira filha, hoje com 14 anos.

Pornografia infantil

Calinka relata que durante as sessões de tortura, Tales as obrigava a assistir a vídeos de crianças com menos de dois anos sendo estupradas. O empresário, excitado com as cenas, teria o hábito de, na sequência, estuprar e sodomizar Calinka. Essa, porém, não seria a única conexão do empresário com o universo da pornografia infantil.

As duas filhas de Tales entrevistadas pela coluna, Julia e Ana Clara, hoje com 26 e 24 anos, respectivamente, relataram ter encontrado no computador do pai, ainda crianças, vídeos de estupros de meninos e meninas.

Separação

Calinka decidiu separar-se de Tales de Carvalho em abril de 2021, após enfrentar uma situação de infelicidade prolongada. Saiu da casa dele fugida com a filha mais nova, hoje com 14 anos, a filha mais velha Julia e seu genro, um ex-aluno do ICLS com quem Julia foi prometida aos 16 anos. Ana Clara, outra filha do casal, já estava casada com um muçulmano paraguaio em Foz do Iguaçu (PR) naquele ano.

Calinka manteve em segredo o histórico de violência até mesmo das filhas, embora elas tenham vivenciado os episódios de violência doméstica. Julia recorda-se das noites de medo, descrevendo Tales como uma figura assustadora que frequentemente agredia Calinka e a outra mulher. Ela lembra de um incidente em que ele arrombou a porta do quarto e arrancou Calinka pelos cabelos.

Atualmente, a filha mais nova vive com Tales por escolha própria, conforme acordo judicial assinado em maio de 2022. O acordo estabelece guarda unilateral para Tales, visitas de Calinka nos finais de semana alternados, e Tales renunciou à pensão alimentícia. O acordo também encerrou processos judiciais mútuos e incluiu uma indenização acordada de R$ 60 mil para Calinka, embora ela afirme ter recebido apenas R$ 5 mil.

Tales de Carvalho teve múltiplos casamentos após Calinka, incluindo uma esposa marroquina temporária e duas brasileiras subsequentes, uma delas com apenas 17 anos, aluna do ICLS. Quanto a Olavo de Carvalho, ele apoiou ativamente os cursos ministrados por seus filhos no ICLS, destacando sua importância cultural, mas expressou discordância pública quando seus filhos tentaram influenciar alunos a aderirem a práticas islâmicas.

Outro lado

A coluna tentou contatar Tales de Carvalho e seu irmão Gugu para comentários, mas não obteve resposta imediata. Através de seu advogado, Tales negou as acusações, afirmando que as mesmas foram fabricadas por Calinka para prejudicar sua custódia da filha mais nova. A Justiça, segundo a defesa, teria decidido a seu favor e desconsiderado as alegações.

Luiz Gonzaga de Carvalho, conhecido como Gugu e apontado como figura central na direção do ICLS, também foi contatado pela coluna através de telefone. Ao ser informado sobre o conteúdo da reportagem, ele encerrou a ligação abruptamente, afirmando: “Não confio em jornalista. Jornalista é tudo filho da puta”. O espaço está aberto a manifestações.