Arthur Lira pôs milhões de mulheres e meninas em risco esta semana, ao articular a urgência do projeto que equipara o aborto legal a homicídio, em nome unicamente de arregimentar forças para fazer seu sucessor na Câmara dos Deputados.
Sem conseguir viabilizar pelas vias normais o nome de Elmar Nascimento, Lira achou que era OK atiçar o fantasma do extremismo para agradar o bolsonarismo e mostrar à esquerda do que é capaz.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública informa que 74.930 pessoas foram estupradas no Brasil em 2022. Dessas, 88,7% das vítimas eram do sexo feminino e cerca de 60% tinham, no máximo, 13 anos de idade. Ou seja: a grande maioria das vítimas de estupro no Brasil são meninas.
O DataSUS aponta que, em 2019, somente cerca de 70 gestações foram interrompidas legalmente em crianças e adolescentes brasileiras com menos de 14 anos. O aborto legal, a que a massa de meninas das estatísticas do Anuário Brasileiro de Segurança teria direito, já não é uma realidade para elas.
Em muitos hospitais do país, falta a medicação para induzir os abortos legais e há forte pressão de enfermeiros e médicos que ilegalmente induzem mulheres e meninas a desistirem do que — de novo — é um direito delas. Além disso, há a atuação nefasta de alguns defensores, promotores e juízes que, também ilegalmente, criam maneiras de dificultar que uma mulher ou uma menina estuprada abortem.
Mas nada disso foi o que levou Arthur Lira ao tema do aborto. O presidente da Câmara aproximou-se do tema de uma maneira irresponsável. Não é uma conduta adequada para um político que, até por já ter respondido a um duro processo por violência doméstica, deveria encarar os direitos das mulheres de outra maneira.