Indicadores econômicos e de saúde não deixam mentir sobre a crise administrativa que atravessa Campina Grande, segunda maior cidade do estado da Paraíba. O município registrou o pior saldo entre todas as 223 cidades do estado em 2023 na geração de emprego, com saldo de quase mil postos fechados, apontou o Caged, do Ministério do Trabalho, na semana passada. Na saúde, o ranking do Previne Brasil (do Ministério da Saúde), que avalia a qualidade da saúde básica dos municípios brasileiros, mostrou dias depois que Campina está à frente apenas de Nova Floresta na Paraíba.
Campina Grande é administrada pelo jovem prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil), primo do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), ex-candidato a governador em 2022, que não gostou das críticas do governador João Azevêdo (PSB) durante plenária do seu partido em Campina Grande na última quinta-feira. Em vídeo publicado ndas redes sociais, nesse sábado, Pedro acusa João de ter atacado a memória do seu avô Ronaldo Cunha Lima, que administrou Campina e o estado.
Discurso mira gestão de Bruno
Mas diferente do que Pedro quis interpretar, as declarações do governador João Azevêdo tiveram endereço bem claro. Em todo seu discurso, que serviu para apresentar o secretário de saúde do Estado, Jhony Bezerra (PSB), como pré-candidato à PMCG, João mirou as críticas à gestão de Bruno Cunha Lima.
O chefe do poder executivo estadual fez menção ao ranking do Previne Brasil e a crise do prefeito campinense com a Câmara Municipal, levando o município a entrar no segundo mês de 2024 sem orçamento. Foi quando João afirmou que o tempo dos coronéis foi enterrado, uma crítica a falta de diálogo entre Bruno e legislativo.
João usa expressão “verso e prosa”
Em outro momento, João usa as expressões em verso e prosa, logo após ressaltar a assinatura da ordem e serviço para construção do novo Hospital de Clínicas, que entre outras especialidades, também servirá como maternidade, um calo da gestão de Bruno após os apagões no Isea.
“Campina precisa voltar a ser uma cidade que há um tempo era liderança real desse estado, porque havia um cuidado maior com essa cidade, infelizmente se perdeu este cuidado, e se perdeu muitas vezes em versos e prosas, os discursos eram muitos bonitos, mas a prática era muito diferente”, disse João, fazendo menção à veia poética do prefeito de Campina Grande, que assim como Pedro, que também herdou o gosto pela poesia.
João ainda criticou o que ele chamou de “falácia” sobre a tese que governantes eleitos que não são de Campina não gostam da cidade – narrativa criada pelo ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB), pai de Pedro, durante a disputa de 2014 contra o então governador Ricardo Coutinho. Ronaldo Cunha Lima faleceu em 2012.
“Texto sem contexto é pretexto”
O prefeito Bruno Cunha Lima chegou a ser questionado na sexta-feira pela imprensa campinense sobre as declarações do governador João Azevêdo um dia antes. Diferente de Pedro, Bruno buscou o contexto da fala, mas evitou colocar a carapuça.
“Acho texto sem contexto é pretexto, pelo trecho que eu vi, ele se referiu no plural e não a mim”, reagiu, refutando a pecha de “coronel”.
Até Bruno entendeu o que o primo não soube interpretar. Talvez porque, mais perspicaz, não quis passar em prosa um recibo em versos.