O Globo O segundo dia de julgamento de réus acusados pelos atos de 8 de janeiro no Supremo Tribunal Federal (STF) foi marcado por uma ríspida discussão entre o relator dos casos, ministro Alexandre de Moraes, e o ministro André Mendonça, último indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro à Corte. O bate-boca começou quando Moraes interrompeu o voto de Mendonça para rebater alguns de seus argumentos contrários à imputar aos invasores o crime de tentativa de golpe.
— Com todo o respeito, Vossa Excelência querer falar que a culpa do 8 de janeiro é do ministro da Justiça… — começou Moraes.
Mendonça rebateu: — Muito embora eu quisesse que houvesse vídeos do Ministério da Justiça.
Moraes, então, continuou:
— Vossa Excelência vem ao plenário do STF, que foi destruído, para dizer que houve uma conspiração do governo contra o próprio governo?
Neste momento, Mendonça se exaltou, pedindo ao relator para “não colocar palavras” em sua boca.
Ao iniciar a apresentação de seu voto, Mendonça sinalizou discordar do relator e de Cristiano Zanin quanto aos crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
— Eles não agiram para tentar depor o governo. A deposição do governo dependeria de atos que não estavam ao alcance dessas pessoas — disse Mendonça. — Há dúvidas razoáveis de saber como esse grupo entrou com tamanha facilidade, eu não digo no Supremo, não digo no Congresso, mas dentro do Palácio do planalto. Onde estava todo o efetivo da Força Nacional? Hoje o Brasil não sabe.
Com as considerações do ministro, os colegas iniciaram um debate sobre o que configura uma tentativa de golpe. O ministro Gilmar Mendes também se posicionou:
— A cadeira que o senhor estava sentado estava lá na rua — disse Gilmar.
Após a discussão, os ministros contemporizaram
— Se Vosa Excelência se sentiu ofendido, peço desculpas — afirmou Moraes.
— Eu agradeço. E se fiz algo indevido, também peço desculpas — respondeu Mendonça.