O presidente Lula tem 77 anos, está com pneumonia e, se um voo de 36 ou 25 horas já é pesado para qualquer um, imagine-se para uma pessoa nessas condições. Logo, foi uma decisão difícil, aflitiva, mas correta, cancelar a viagem à China e esperar uma total recuperação, além de nova brecha na agenda de Xi Jinping, para remarcar a data.
É uma pena, porém, porque Lula seria o primeiro presidente recebido por Xi Jinping após a recondução ao cargo e a viagem, que envolvia pesados interesses bilaterais, regionais e multilaterais, era vista como a mais importante do início do mandato e decisiva para alavancar a volta do Brasil e de Lula ao mundo.
Idade, saúde e condições psicológicas de um presidente são questões muito delicadas, mas é importante para o governo, a sociedade, o País e seus parceiros, no campo diplomático, econômico e comercial, que as decisões e informações sejam transparentes, realísticas, sem margem para rumores e insegurança institucional.
Lula vem de uma prisão, do câncer, da morte de um neto e de uma campanha eleitoral feroz, com a sociedade rachada ao meio e sob intensa pressão para tirar o País do fundo do poço. A posse foi linda, colorida, expondo o alívio nacional, mas mantiveram-se os acampamentos golpistas e veio a invasão de Planalto, Congresso e Supremo. Isso tudo exigiu reação interna vigorosa e articulação internacional. Não é fácil. Lula está cansado.
A esse contexto, já tão complexo, somem-se as idiossincrasias do PT, o embate equivocado sobre a economia, entre passado e futuro, responsabilidade fiscal e social. PT x PT, Gleisi Hoffmann x Fernando Haddad, governo x mercado, Lula x Roberto Campos Neto. Para piorar, a guerra entre o tapete verde e o tapete azul do Congresso que explode no governo. E Bolsonaro está voltando…
Entre vários fogos cruzados, Lula fala besteiras e convive com algo que seu ego não suporta: as críticas, potencializadas de forma cruel pela internet. A impressão é de que está sem energia, sem conseguir reagir à pressão, tomar decisões e mediar conflitos. A âncora fiscal vai, volta, gira e não sai do papel.
Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Merenda Escolar, Mais Médicos… são importantíssimos, mas emergenciais. Não são estruturantes, como deve ser a política econômica, para garantir o futuro, renda, emprego, investimentos, educação, saúde, inclusão social e a tão sonhada e tão distante igualdade.
O cancelamento da viagem é frustrante, mas também é uma chance de um freio de arrumação. Que Lula fique bom logo e volte com mais arsenal, pessoal e político, para uma guerra que está só começando!