De Thaís Oyama, do UOL — Às 20h30 de hoje, uma dupla de jornalistas da TV Globo que não William Bonner e Renata Vasconcellos abrirá o Jornal Nacional.
Dos estúdios do Jardim Botânico, eles apresentarão as manchetes do dia seguidas do anúncio da entrevista com o presidente Jair Bolsonaro.
As câmeras, então, passarão para os estúdios do Projac, onde já estarão sentados Bonner, Renata e Bolsonaro. A partir daí, serão 40 minutos de guerra, sem intervalos nem trégua.
Pelo menos é para isso que Bolsonaro se prepara. “O presidente estará na jaula dos leões e vai pronto para enfrentá-los”, diz um conselheiro político.
Segundo esse estrategista, Bolsonaro não estará no JN “para brigar”, mas levará consigo “todo tipo de armamento” para o caso de os entrevistadores da Globo “escalarem demais”.
Esse “armamento”, afirma o conselheiro político, seria da mesma natureza que o usado em 2018, quando o então candidato Bolsonaro, confrontado com perguntas sobre suas declarações em favor da ditadura, sacou trechos do editorial do fundador da Globo, Roberto Marinho, manifestando apoio ao golpe militar de 1964 — apoio que a empresa já havia reconhecido como um erro.
Bolsonaro, afirma um integrante do núcleo da campanha, aceitou ir ao JN porque a entrevista no telejornal de maior audiência do país é para ele uma oportunidade de “falar para fora da bolha e atingir, além da classe média, também as classes C e D” — o segmento mais pobre do eleitorado é aquele em que o presidente segue pior, segundo as últimas pesquisas.
O ex-capitão, no entanto, tem consciência de que será assistido também por seus apoiadores, que não querem ver um presidente se curvando “ao inimigo”.
Por esses e outros motivos, diz o integrante do núcleo da campanha, Bolsonaro, no Jornal Nacional, será “tigrão, não tchuchuca”.
Na semana passada, o presidente se recusou a participar de uma “reunião de alinhamento” com integrantes da campanha e do núcleo político com vistas a prepará-lo para a entrevista.
Diante disso, combinou-se que agentes políticos do seu entorno, como o filho Flávio Bolsonaro, e os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Fabio Faria (Comunicação) e Paulo Guedes (Economia) se encarregariam de, a conta gotas, ir transmitindo ao presidente as estratégias acordadas pelo grupo.
Entre as principais: não se deixar conduzir pelos entrevistados, respondendo se preciso for, “com amarelo à pergunta sobre roxo”; usar todas as oportunidades para lembrar a criação do Auxílio Brasil e o fato de que o governo “levou água para o Nordeste”, em referência à transposição do Rio São Francisco; e martelar a ideia de que, se a economia está como está, isso é culpa da conjuntura econômica internacional, afetada pela pandemia e pela guerra da Ucrânia, mas que ainda assim, Bolsonaro evitou “que o Brasil virasse uma Argentina”.
Bolsonaro, segundo o integrante de sua campanha, quer “manter a espontaneidade” e passar a mesma imagem que ele considera ter transmitido durante as últimas entrevistas que deu na internet: de alguém “gente boa, humano e brincalhão”.
A ideia é usar os 40 minutos do Jornal Nacional não apenas para diminuir sua rejeição, como aumentar a do adversário, o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Para isso, o presidente tentará orientar a entrevista para os episódios de corrupção do PT e temas de agrado do público religioso conservador, como a condenação do aborto.
O marqueteiro Duda Lima não acompanhará o presidente na entrevista, que aliados consideram que será mais difícil para o presidente do que o confronto com Lula no debate do próximo domingo, promovido pelo pool de empresas jornalísticas formado pelo UOL, Folha, TV Bandeirantes e TV Cultura.
Diz um desses aliados: “No debate, haverá regras rígidas e todos terão oportunidades de ataque e defesa. Na entrevista ao JN, Bolsonaro estará em território adversário e com o controle da situação nas mãos do inimigo”.