Em menos de 24 horas, acenderam duas luzes vermelhas no painel de controle da campanha de Lula. Primeiro, pesquisa da Quaest revelou que Bolsonaro empatou tecnicamente com Lula em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. O petismo mal teve tempo de recuperar o fôlego e o mesmo instituto informa que detectou um avanço consistente de Bolsonaro em Minas Gerais, que abriga o segundo maior eleitorado do país. Aos pouquinhos, o pessimismo migra do comitê da reeleição para a campanha petista.
No intervalo de um mês, a vantagem de Lula sobre o rival caiu de 18 para 9 pontos em Minas. Num cenário de segundo turno, a dianteira do petista foi encurtada de 25 pontos para 12. Invertem-se as curvas. Lula desce. Bolsonaro sobe. Além de degustar a alta no índice de intenção de votos, o capitão saboreia a ascensão da taxa de avaliação do seu governo. Em um mês, a reprovação do governo entre os mineiros caiu de 46% para 39%. A aprovação subiu de 29% para 34%.
A imagem de Bolsonaro melhorou praticamente em todos os segmentos, sobretudo entre os clientes do Auxílio Brasil. Em julho, Lula prevalecia sobre Bolsonaro junto aos beneficiários do antigo Bolsa Família por 60% a 16%. Essa vantagem caiu de 44 pontos para 28 pontos. Agora, Lula obtém nesse nicho 53% das intenções de voto, contra 25% atribuídos ao rival.
Minas Gerais não é um estado qualquer. É chamado de estado-pêndulo do Brasil. Desde a redemocratização, todos os presidentes eleitos pelo voto direto venceram em Minas. Isso aconteceu inclusive com Lula, em 2002 e 2006; e com Bolsonaro, em 2018. O estado convive com disparidades regionais que o transformam numa espécie de microcosmo do Brasil. No Vale do Jequitinhonha, pobreza extrema. Na região metropolitana de Belo Horizonte, prosperidade.
Uma das luzes vermelhas que piscaram no comitê de Lula indica que Bolsonaro recupera no Sudeste votos que lhe faltam no Nordeste, onde leva uma surra do rival. A outra luz sinaliza que, graças à PEC da Eleição, que transformou o Tesouro Nacional em cabo eleitoral de Bolsonaro, as ameaças à democracia são diluídas no mar de dinheiro que o capitão manuseia na antessala da eleição.
Recém-embarcado na canoa de Lula, o ex-presidenciável mineiro André Janones traduziu em duas postagens a nova pesquisa realizada em Minas Gerais.
Num post Janones anotou: “Diferença entre Lula e Bolsonaro cai de 18 pra 9, com apenas 2 dias de auxílio em R$ 600. Ou a esquerda senta no chão da fábrica pra conversar com os operários ou já era. Detalhe: o chão da fábrica atualmente são as redes sociais, em especial o Face.”
Noutro, escreveu: “O povão, a massa, aqueles que DECIDEM as eleições, não entendem o linguajar da elite intelectual que leram (sic) a carta hoje. O pedreiro,a doméstica, o garçom, também querem escrever uma carta, porém não tem quem leia. E se ninguém ouvi-los, Bolsonaro será reeleito. Printem e me cobrem.”
Josias de Souza (UOL)