(Folha de S. Paulo) O palanque do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Paraíba é o principal impasse a ser resolvido na campanha do petista nos estados do Nordeste.
O ex-presidente tem sinalizado apoio à pré-candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao Governo da Paraíba e ao ex-governador Ricardo Coutinho (PT) para o Senado, mas poderá ceder a apelos do seu principal aliado, o PSB.
Isso porque o governador João Azevêdo (PSB) também apoia Lula e o seu partido não descarta incluir a Paraíba no rol de acordos nacionais que poderá sair em troca de uma retirada da pré-candidatura de Márcio França (PSB) ao Governo de São Paulo.
Com a saída do apresentador José Luiz Datena do páreo, França pretende disputar uma vaga de senador por São Paulo. Assim, o PSB deve integrar a chapa de Fernando Haddad para o Palácio dos Bandeirantes, uma das prioridades nacionais do PT.
A Paraíba é o único estado do Nordeste que não foi visitado pelo ex-presidente Lula desde que ele retomou os direitos políticos.
Isso, no entanto, não impediu encontros de Lula com aliados da Paraíba. Em junho, durante passagem pelo Rio Grande do Norte, o petista teve encontros com João Azevêdo e com Veneziano e Ricardo.
A reunião mais enfática de aliança foi com Veneziano e Ricardo. Lula chegou a gravar um vídeo ao lado dos dois aliados, em sinalização de apoio à chapa MDB-PT.
“O ex-governador certamente será o futuro senador e o atual senador será possivelmente o futuro governador do estado. Todos vocês sabem que o PT está apoiando a candidatura de Veneziano e a de Ricardo Coutinho”, disse Lula na gravação.
Ricardo Coutinho atualmente está inelegível por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tomada em novembro de 2020 por abuso de poder político e econômico na eleição de 2014.
A defesa do ex-governador aposta em um recurso no STF para reverter a inelegibilidade. A relatora do caso é a ministra Cármen Lúcia.
“Será superado isso. Acredito que Ricardo terá a elegibilidade até a campanha ser iniciada. Confio nos fundamentos que a defesa do ex-governador fez. Ele deve ser candidato ao Senado”, avalia o senador Veneziano Vital do Rêgo.
João Azevêdo e Ricardo Coutinho estão rompidos politicamente desde 2019.
Azevêdo comandou uma supersecretaria que abrigava Meio Ambiente, Infraestrutura, Recursos Hídricos e Ciência e Tecnologia durante o governo de Ricardo Coutinho, de 2011 a 2018.
Em 2018, foi lançado candidato ao governo apadrinhado pelo então governador. Foi eleito pelo PSB, mesmo partido do antecessor.
Em novembro de 2019, Ricardo Coutinho foi alvo da Operação Calvário da Polícia Federal, que investiga supostos desvios de recursos da saúde, e chegou a ser preso preventivamente, mas solto após dois dias. O ex-governador tem reiterado que é inocente.
Um mês depois, João Azevêdo anunciou a saída do PSB para se filiar ao Cidadania.
Na eleição municipal de 2020, Ricardo Coutinho foi candidato a prefeito de João Pessoa e ficou em sexto lugar, sob desgaste após a Operação Calvário. No ano seguinte, sua relação com o PSB se desgastou.
Ele optou por se filiar ao PT, sigla à qual já foi filiado nos anos 1980 e 1990. No retorno, em setembro de 2021, ficou acordada a sua pré-candidatura ao Senado.
A alegação de Veneziano e Ricardo Coutinho é que a aliança deles com Lula já ficou acordada antes de o governador João Azevêdo voltar ao PSB, em fevereiro deste ano.
“Respeitamos muito o governador João Azevêdo, mas quando o governador retorna para o PSB, já estávamos com a decisão política de apoiar Veneziano, do MDB. O PT vai ter que estar em um palanque e tomamos essa decisão”, diz Márcio Macedo, vice-presidente nacional do PT.
No entanto, integrantes da direção nacional do PSB não desistiram da tentativa de um acordo nacional com o PT para que os petistas apoiem oficialmente a reeleição de João Azevêdo.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, e o senador Veneziano Vital do Rêgo, que já foi do partido, trocaram farpas em público nos últimos dias sobre a composição dos palanques na Paraíba.
Membros da direção do PSB afirmam que Siqueira comprou a briga e deverá defender a aliança do PT com o PSB na Paraíba.
Outro entrave para Lula é a falta de unidade do PT na Paraíba. Uma ala, que inclui o deputado federal Frei Anastácio, segue aliada a João Azevêdo e não sinaliza que desembarcará da aliança governista para apoiar Veneziano e Ricardo Coutinho.
O palanque na Paraíba também deverá ser resolvido no comando da federação nacional de PT, PV e PC do B. Isso porque PV e PC do B são aliados de João Azevêdo.
Como formam uma federação com o PT, os partidos não podem adotar caminho distinto dos petistas na formação das coligações para a chapa majoritária.
“Não posso falar sobre o PC do B e o PV para não me intrometer em outros partidos. Mas o PT tem uma decisão política de apoiar Veneziano para governador e indicar Ricardo Coutinho para o Senado”, afirma Márcio Macedo.
A presidente nacional do PC do B, Luciana Santos, disse à reportagem que acredita que o cenário na Paraíba será levado ao debate interno na federação.
Lula e Ricardo Coutinho têm boa relação política. O entorno do ex-presidente costuma defender que o ex-governador demonstrou lealdade ao petista mesmo em momentos de baixa, como na prisão pela Lava Jato, no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e no segundo turno das eleições de 2014, quando Coutinho apoiou a petista e não Aécio Neves, divergindo da orientação do seu partido à época, o PSB.
Já o PSB é tido como principal aliado de Lula na disputa presidencial de 2022. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin é filiado ao partido e será o candidato a vice-presidente na chapa do petista.
Lula deverá ir à Paraíba ainda em julho, após ser sacramentado o cenário eleitoral no estado. Nas próximas semanas, as cúpulas de PSB e PT debaterão as alianças indefinidas nos estados.
A reportagem procurou Ricardo Coutinho para comentar sobre a inelegibilidade, mas a assessoria dele não respondeu.