Vírus verbal

O que disse Bruno Cunha Lima até ‘reconhecer’ gravidade da pandemia

Por Maurílio Júnior

Jair Bolsonaro e Bruno Cunha Lima. (Foto: Divulgação)

O agravamento da pandemia da Covid-19 na região de Campina Grande nesta semana preocupou pela primeira vez o prefeito Bruno Cunha Lima (PSD). Nas redes sociais, o gestor escreveu nesta sexta-feira (21) que a cidade deve sofrer semanas difíceis. Mas nem sempre foi assim. Desde janeiro, quando assumiu o mandato, Cunha Lima deu declarações que minimizavam os impactos do vírus na região, como se Campina fosse uma espécie de bolha.

Leia também: 

+ “As próximas semanas serão as mais difíceis de Campina”, diz Bruno

Em 22 de fevereiro, quando a segunda onda da doença já atingia a Paraíba, Bruno foi ao Twitter para dizer que, “a situação em #Campina permanece #sobcontrole.” Em 6 de março, quando o Município tinha 74% de ocupação dos leitos de UTI, o prefeito deu o primeiro sinal que iria contrariar as medidas restritivas do Estado.

+ Fiocruz aponta tendência de 75% de crescimento da Covid-19 na Paraíba

Conforme já se esperava, a nova classificação dos municípios por bandeiras feita pelo Governo do Estado rebaixou #Campina para a cor laranja, o que, em tese, imputaria à cidade as medidas restritivas adotadas pelo Governo no decreto publicado na última semana”, disse. 

+ Com hospitais de CG lotados, pacientes são transferidos para JP

“Recebemos pacientes de outras cidades com muito orgulho. Como disse, estamos de portas abertas para ajudar. Essa é uma marca registrada das pessoas de #Campina. Mas, sinceramente, não podemos ser penalizados por estamos ajudando nossos irmãos de outras cidades. Qual o sentido?”, contestou.

+ Com hospitais lotados, fila se forma no Pedro I em Campina; vídeo 

Repito! Qual o sentido de rebaixar #Campina de bandeira pelo fato de nossos leitos estarem ocupados por pacientes que vieram ser socorridos na cidade? Se quiserem nos ajudar, ajudem a fiscalizar ainda mais o comércio, os restaurantes, os campos de futebol, os bares, as igrejas”, persistiu Bruno. 

+ Pedro I tem explosão de atendimentos nesta quarta 

“Campina está numa situação diferenciada porque fazemos nossa parte com planejamento e eficiência.”, exclamou.

+ Líder de Bruno recusa teste e diz que troca vacina por ivermectina

Pelo Twitter, em 12 de março, quando Campinha tinha 77% de ocupação de UTI, Bruno chegou a desafiar o comando da Polícia Militar que fazia cumprir o toque de recolher, medida adotada pelo Estado para frear a transmissão da Covid-19 e avisou que recorreria à Justiça.

+ Bruno diz respeitar fala de líder sobre trocar vacina por ivermectina

“Algumas informações chegaram dando conta de que um dos comandantes da Polícia Militar em Campina teria afirmado que iria cumprir toque de recolher na cidade. Quero alertá-lo para o fato de que a cidade tem decreto próprio e que não adota esse tipo de medida #autoritária.”

+ MP pede esclarecimentos à PMCG sobre o uso da cloroquina para Covid-19

“(…) Sugiro o senhor não #desrespeitar dias de diálogo e interação entre a PMCG, as entidades de representação da cidade e os Ministérios Públicos. Além do mais, caso a cidade seja desrespeitada, recorreremos à Justiça, buscando a responsabilização dos envolvidos.”, continuou. 

+ Polícia investiga morte de mulher com suspeita de Covid-19 no meio da rua

No dia 13 de março, Bruno escreveu que o “o #trabalho para garantir a #liberdade das pessoas da cidade. Liberdade de ir e vir, de cultuar a #Deus, de trabalhar honestamente”, continuaria. “No estado de direito e até quando este perdurar, como todos sabem, está assegurado o direito ao recurso. Vamos recorrer!”. 

+ Cientista da Fiocruz atribui colapso em Campina a “negacionismo” de políticos locais

Nesta sexta (21/05), Bruno Cunha Lima respondeu a um seguidor no Instagram que nunca recorreu das restrições do Estado, mas sim o governo estadual contra o seu decreto.

+ Diretor do CRM-PB contesta insistência na cloroquina: “Lamentável”

Voltando ao dia 13 de março, Bruno também foi ao Twitter contestar a decisão do juiz Alex Muniz Barreto, da 1ª Vara de Fazenda Pública de Campina Grande, que ao negar o recurso do Município, ainda afirmou que o prefeito era um “mau exemplo” no combate à pandemia.

“Confesso que recebi com surpresa a decisão do excelentíssimo juiz Alex Muniz. Por respeito ao Judiciário, decidi não tecer comentários quanto à linguagem, ou melhor, ao “excesso de linguagem” usado pelo magistrado, seja na sua decisão, seja nas redes sociais.”

Às vésperas de publicar um novo decreto, em 6 de abril, quando Campina Grande tinha 71% de ocupação de leitos de UTI, o prefeito reafirmou a posição que, “já defendia há mais de um mês: LIBERDADE e RESPONSABILIDADE.”

Em 27 de março, Bruno gravou um vídeo no Hospital Municipal Pedro I falando que a unidade distribuía  medicamentos como azitromicina, ivermectina e predsim, que compõem o chamado “kit Covid”, sem nenhuma eficácia contra a Covid-19. Aliás, o prefeito sempre deixou claro que o Município adota o famigerado “tratamento precoce”.

Voltando a fevereiro, Bruno Cunha Lima recebeu sem máscara o presidente da República, Jair Bolsonaro, no Aeroporto João Suassuna. O prefeito estava acompanhado do ex-prefeito Romero Rodrigues (PSD), que também não usava máscara, a exemplo de Bolsonaro.

Foto: Codecom/CG

Na última quarta (18), o líder de Bruno Cunha Lima na Câmara Municipal, vereador Alexandre do Sindicato (PSD), disse na tribuna da Casa Legislativa que trocaria a vacina por ivermectina e se recusou a ser testado para Covid-19 por uma equipe de Saúde do Município.

Pelas redes sociais, nesta sexta-feira, 21 de maio, Bruno Cunha Lima, enfim, reconheceu pela primeira vez, de forma mais enfática, a gravidade da pandemia em Campina Grande, dois dias depois do município registrar 99% de ocupação dos leitos de enfermarias e de pacientes serem transferidos para João Pessoa.

“As próximas semanas tendem a ser as mais difíceis vividas por Campina e pela Paraíba”, alertou. “Contar com a ajuda e com o comprometimento de cada um vai ser fundamental pra gente atravessar este momento”, apelou.

Bruno também justificou o decreto publicado nesta sexta (21) que, em grande parte, endossa a publicação feita pelo Governo do Estado na última terça (18). Em março, no pico da segunda onda da Covid-19, o prefeito chegou a recorrer das restrições do Estado.

“Ao longo de um ano e dois meses de pandemia, nos instantes em que foi possível termos decretos e medidas menos restritivas, nós tivemos. Nos instantes em que medidas mais duras foram necessárias, elas também foram tomadas, por mais amargas que sejam”.