O avanço da Covid-19 na região de Campina Grande tem chamado atenção do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Nesta quinta (20), ao blog, o cientista Christovam Barcellos atribuiu o colapso no município ao “negacionismo” e “sabotagem” do prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (PSD), e do líder do governo na Câmara de Vereadores, Alexandre do Sindicato (PSD), que tomaram recentemente posições que divergem das regras de prevenção contra a doença.
Em fevereiro, Bruno recebeu sem máscara o presidente da República Jair Bolsonaro no aeroporto João Suassuna. Ao lado dele também estava o ex-prefeito Romero Rodrigues (PSD). Já nessa quarta (20/05), o líder de Bruno, o vereador Alexandre do Sindicato, se recusou a ser testado e disse que trocaria a vacina pela ivermectina, medicamento sem eficácia contra a Covid-19.
“As autoridades de Saúde estão falando uma coisa e eles estão fazendo outra. E mostram publicamente posições irresponsáveis como não usar máscara e propagar medicamentos sem eficácia. São péssimos exemplos. É um negacionismo, uma sabotagem”, afirmou.
“Temos de pensar que, além de políticos, eles também são influenciadores. É a moda falar agora, né? Eles influenciam uma quantidade enorme de gente. Se eles falam que há um medicamento milagroso, muita gente vai acreditar e vai se expor e pode ter um caso grave, e não conseguirá se curar nem indo para UTI. Isso tem que ser evitado. Esse papel do gestor local tem que ser lembrado. Não adianta fazer um discurso oficial dizendo que “estamos controlando, as pessoas tem que se cuidar”, quando na prática aparece em público sem máscara aglomerando. Isso é o incentivo, as pessoas vão achar que não existe transmissão, não precisa se cuidar, que o pior já passou e vão se descuidar. Esse papel de influenciador é muito importante”, acrescentou Barcellos.
Colapso nas enfermarias
As enfermarias do Municípios de Campina Grande estão completamente lotadas, segundo o último boletim da Secretaria Estadual de Saúde divulgado nesta quinta (20). O índice é de 99%.
O agravamento da pandemia em Campina Grande fez o Hospital Municipal Pedro I registrar uma média de atendimento de quase 20 pessoas por hora nas últimas 40.
Até às 16 horas, o Pedro I já havia atendido 346 pessoas com sintomas de coronavírus. Ontem, a unidade registrou 434 atendimentos.
“Campina Grande é uma área de influência enorme, pegando todo Agreste e Sertão. Muitos casos que são atendidos também são de fora. A cidade é responsável pelos seus cidadãos e ao mesmo tempo ela tem que lembrar que é polo. A autonomia é muito relativa. O que Campina faz reflete na cidade vizinha. Provavelmente quando lotar os hospitais de Campina Grande, por sua vez, vai lotar os hospitais de João Pessoa. As cidades estão conectadas. Não é a toa que chamamos isso de Sistema de Saúde. A melhor maneira de evitar esse cenário é a prevenção enquanto não conseguimos vacinar todo mundo”, explicou Christovam Barcellos.