Em 29 de abril de 2020, o jornal de maior circulação no país manchetou: “Protesto por reabertura de comércio na Paraíba é investigado”. A Folha de S. Paulo estampara a emblemática imagem de comerciantes de Campina Grande de joelho sob a cobrança de patrões pelo retorno das atividades. Ainda era o início da pandemia quando tudo, a exemplo de agora com a nova variante, era muito desconhecido.
Também naquele período, o então prefeito Romero Rodrigues (PSD) implantou o protocolo que prevê a prescrição da hidroxicloroquina em pacientes com estágio inicial da Covid-19. O medicamento, que não tem eficácia contra a doença, foi usado politicamente pelo presidente da República e aliado de Romero, Jair Bolsonaro. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a hidroxicloroquina não funciona no tratamento contra a Covid-19 e pode causar efeitos adversos. O Tribunal de Contas da União (TCU), aliás, apontou ilegalidade no uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) para o fornecimento de cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19.
Na contramão do mundo, Campina Grande lutou bravamente contra as medidas restritivas, cabendo ao Ministério Público e judiciário a responsabilidade de impor as necessárias restrições enquanto o vírus avança. A situação voltou a se repetir agora em março de 2021, mesmo quando não há a previsão de lockdown por parte do governo estadual.
No mês passado, durante rápida passagem de Jair Bolsonaro pelo aeroporto João Suassuna, o ex-prefeito Romero Rodrigues e o atual prefeito Bruno Cunha Lima receberam o presidente da República sem o uso da máscara, em subserviência ao chefe do Planalto. Ambos foram criticados por seguidores nas redes sociais e pelo secretário estadual de Saúde, Geraldo Medeiros.
Nesta semana, Bruno também se posicionou radicalmente contra o lockdown, questionando os efeitos da medida, que levou países europeus e recentemente o município de Araraquara (SP), a frearem a velocidade de contaminação. A gestão municipal tem travado uma espécie de Fla x Flu com o Governo do Estado em torno das medidas de contenção. Ao olhar do prefeito, a pandemia em Campina é diferente. Delírio.
Tudo isto quando o país enfrenta o pior momento da pandemia, com o aumento de contaminações, internações e mortes. A cidade que é grande no nome tornou-se, por uma simpatia política, um reduto de insensatez.