Oito meses de investigação, 105 mil ligações telefônicas interceptadas, dirigentes e árbitros tramando, sem nenhum constrangimento, a negociação de resultados no futebol paraibano. Apesar do amplo acervo de provas, a Operação Cartola caminha para terminar em pizza.
Na última quinta-feira (12), o juiz José Guedes, da 4ª Vara Criminal de João Pessoa, revogou as cautelares que impediam os 17 réus investigados na operação, que desvendou um esquema de manipulação no futebol do estado, de frequentarem estádios e entidades desportivas.
“Por fim, não se pode desconsiderar que o tempo de duração da medida vem prejudicando o exercício da atividade profissional dos requerentes, que advogam na justiça desportiva, o que somente reforça os argumentos até então utilizados para a revogação pretendida”, pontuou o magistrado.
A denúncia do Ministério Público apresentada em setembro de 2018 alega que os réus atuavam com “corporificadas pela utilização de documentos falsos, intimidação de testemunhas, ocultação e destruição de provas, entre outros, cujos resultados geravam elevados desvios econômicos e prejuízos, não apenas no campo financeiro, mas, notadamente, na esfera moral da sociedade. Esta, ludibriada pelo organismo delinquencial, era vítima direta do referido esquema criminoso”.
“Nesse passo, foi detectado que ao menos há 10 (dez) anos, as práticas se reiteravam no âmbito do futebol da Paraíba, sem que os órgãos responsáveis por ele tomassem qualquer medida cabível no caso em concreto”, diz a denúncia.
Delegado afastado
Desde a deflagração da Operação Cartola outro episódio que enfraqueceu as investigações foi o afastamento do delegado Lucas Sá do caso ainda em 2018. Coincidentemente ou não, logo após a veiculação de uma matéria da TV Globo revelar o conhecimento do então governador Ricardo Coutinho (PSB) sobre o esquema mantido por dirigentes do Botafogo-PB.
Em recente entrevista à rádio CBN, o vice-presidente da Associação de Defesa das Prerrogativas dos Delegados de Polícia da Paraíba, o delegado e ex-superintendente da Polícia Civil, Marcos Paulo Villela, revelou que foi pressionado para tirar o delegado Lucas Sá do comando da Delegacia de Defraudações da Capital e, por consequência, da Operação Cartola.
“Lucas Sá na época que ele estava na Defraudações eu era o então superintendente. Nós saímos de uma delegacia com 8 policiais para 23. A gente entendia que deveríamos investir porque era uma delegacia que poderia fazer essa contribuição. E toda a sociedade sabe o que aconteceu. Não só ele foi exonerado, como eu também. Até porque em vários momentos me pediram para tirar e eu disse que não tiraria o delegado que estava fazendo o seu trabalho de maneira correta e para tirá-lo teria que me tirar também. E foi isso que aconteceu”, disse.