Extremos desequilibrantes – Alvaro Costa e Silva

Por Maurílio Júnior

O poeta e cronista Paulo Mendes Campos gostava de futebol, e mais ainda do Botafogo. De tanto acompanhar o time de Garrincha, Didi e Nilton Santos, ele desenvolveu a tese segundo a qual a Semana de Arte Moderna não havia chegado ao jornalismo esportivo.

Paulinho vivia recolhendo exemplos: “Adentra o tapete verde o facultativo esmeraldino a fim de pensar a contusão do filho do Divino Mestre, mola propulsora do elevem periquito”. Ou seja: o médico do Palmeiras entrara em campo para atender o craque Ademir da Guia.

jargão de hoje é tão intragável quanto o dos tempos de Antônio Cordeiro e Raul Longras, mas sem a graça involuntária. Fulano é importante porque “verticaliza” a jogada. Sicrano sabe fazer a “leitura” da partida. Beltrano é “diferenciado”. Faltam “peças de reposição”. Num jogo da seleção, ouvi um comentarista dizer: “Tem que entrar um jogador que pense por ele e pelos outros”. Ora, nem Didi nem Gérson, os meias mais cerebrais do futebol brasileiro, seriam capazes de tal façanha.

As besteiras revestidas de tecnicismo são comuns sobretudo entre os técnicos. Sebastião Lazaroni, cuja equipe tinha de “galgar parâmetros” em “losangos flutuantes”, exibiu nosso fracasso linguístico na Copa da Itália, em 1990. Bastante criticado na época, o lazaronês, no entanto, não chega aos pés do titês em matéria de complexidade.

“Professor”, mesmo, é o Tite. Que diabos significam “imposição de corpos na marcação”, “maleabilidade dos alas”, “performar o resultado”, “previsibilidade do erro” e —as minhas preferidas— “sinapses no último terço” e “externos desequilibrantes”? Por estas e outras, não surpreende que o futebol praticado no Brasil ande chatíssimo. E a culpa não pode ser atribuída somente ao VAR.

Enquanto isso, os jogadores comemoram os gols rezando e agradecem a vitória, sempre, a Deus. As mensagens Dele são mais fáceis de decifrar.

Folha