Rosto da Operação Lava-Jato, o juiz Sergio Moro aceitou o convite para integrar a equipe de ministros do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), contrariando a si mesmo, que enfaticamente disse em 2016 que, “jamais” entraria na política. Moro será o superministro da Justiça e Segurança Pública.
“Não, jamais. Jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política”, disse ao jornal “O Estado de S. Paulo” ao ser perguntado se sairia candidato a um cargo eletivo ou se entraria para a política.
Ao jornal Valor, o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão (PRTB), revelou que o convite a Moro foi feito durante a campanha eleitoral pelo economista Paulo Guedes. No mesmo período, a menos de uma semana do primeiro turno, o juiz quebrou o sigilo da delação do ex-ministro Antonio Palocci que cita os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Uma decisão, no mínimo, suspeita.
Com o ‘sim’ a Bolsonaro, Moro se livrará de procedimentos disciplinares no Conselho Nacional de Justiça que questionam sua atuação no comando da Lava Jato, como a divulgação de grampos de Lula, sua atuação para invalidar um habeas corpus concedido para tirar o petista da cadeia, além da própria decisão de divulgar a delação de Palocci as vésperas de uma eleição.
Se antes a narrativa de parcialidade contra o magistrado era reforçada a todo instante por militantes e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores, agora ganha corpo sob análises de Juristas e especialistas em Direito. “A tradição do Judiciário é a de imparcialidade. De não ter lado, de impessoalidade. O aceite de Moro traz um risco de que se acentuem as críticas em relação ao Judiciário, fazendo a população perder o respeito em relação a este poder. E ele não pode botar tudo a perder.”, observou o professor de Direito Público Carlos Ari Sundfeld, da Fundação Getúlio Vargas, ao “Estadão“.
“A declaração evidencia uma aproximação político-partidária incompatível para a isenção que se espera de um magistrado que, neste caso, julgaria o adversário político do presidente eleito”, afirmou a Folha de S. Paulo Juliano Breda, ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Paraná, ainda antes do ‘sim’ de Moro.
Responsável por mais de 200 condenações contra 140 réus – na grande parte, políticos e empresários importantes – na maior operação anticorrupção do país, Moro estará subordinado a um. É a desmoralização da moralidade.
Repercussão internacional
Brazil’s far right president-elect, Jair Bolsonaro, has offered a job in his new government to the anti-corruption judge, whose investigation led to the imprisonment of his political rivalhttps://t.co/EOAWxTfkbS
— The Times (@thetimes) October 31, 2018
O Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, ofereceu um emprego em seu novo governo ao juiz anticorrupção, cuja investigação levou à prisão de seu rival político
Bolsonaro appoints judge who helped jail Lula to lead justice ministry https://t.co/GfvsDjikyX
— The Guardian (@guardian) November 1, 2018
Bolsonaro nomeia juiz que ajudou a prender Lula a liderar o Ministério da justiça