Romero arrisca com Bolsonaro o que Cássio arriscou com Temer

Por Maurílio Júnior

Para um projeto ambicioso de um dia se tornar governador da Paraíba, o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSDB), fez uma aposta arriscada. O tucano de gestão bem avaliada declarou que apoia Jair Bolsonaro (PSL). Mais do que o voto em si, Romero prometeu fazer parte da linha de frente da campanha do capitão na Paraíba. Estado que, apesar de todo desgaste petista, deu vitória a Dilma Rousseff em 2014 e a Fernando Haddad no primeiro turno de 2018. 

Ao tomar como referência a histórica rejeição do PT na Rainha da Borborema, com votações que fogem da realidade dos demais municípios do estado, Romero terá que torcer não só para Bolsonaro confirmar o favoritismo e ganhar a eleição, mas mais do que isso, rezar que o capitão da reserva faça um bom governo. Claro, se ainda sonha em disputar o Palácio da Redenção um dia. Um futuro governo de Bolsonaro é uma grande incógnita. O próprio não se apresenta para debater o que pensa sobre o país, a não ser propor armar o cidadão como forma de combater a insegurança. 

Romero decidiu associar a sua imagem desde já a Bolsonaro. Como fez o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) em 2016 durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), a mesma que teve mais de 60% da preferência dos paraibanos na eleição anterior. Cássio fez o que se esperava de um senador de oposição, o que também tantos outros fizeram. Defendeu a saída da então presidente do poder diante dos últimos escândalos. Pecou no excesso. Cunha Lima foi para linha de frente daquilo que os petistas intitulam de “golpe”, com frequentes encontros com Michel Temer antes da posse.

 

Temer se tornou o presidente mais impopular da história, com mais de 80% de rejeição dos brasileiros. Um prato cheio para os adversários de Cássio lançar sobre ele a pecha de “golpista”. Durante toda a campanha deste ano, o senador tucano precisou conviver com o fantasma do vice de Dilma. Era tido pelos opositores como o “senador de Temer”. Cássio tentou ao máximo desvincular a sua imagem ao “golpe”. Não deu. As urnas o derrotaram. Não era para menos. Cássio é senador da Paraíba e não de São Paulo, onde a rejeição ao PT é enorme. 

Tomemos como exemplo a posição do governador de São Paulo e candidato à reeleição Márcio França (PSB). O PSB declarou apoio público à candidatura de Fernando Haddad. No segundo turno contra João Doria (PSDB), França subiu no muro, ainda que se espere de qualquer liderança política algum posicionamento. Mas o pessebista não cometeu o suicídio de seguir o partido em um reduto antipetista. A de se destacar a compressão do PSB, com a liberação para França tomar a melhor decisão. 

Não se pode negar os avanços sociais que o PT promoveu na região. Preso por corrupção, o ex-presidente Lula ainda é lembrado pelos paraibanos como o maior presidente que o Brasil já teve. Cássio e Romero desafiaram. Para o primeiro, a infelicidade de Temer não ter dado certo. Para o segundo, a torcida para Bolsonaro não fracassar.