Nas eleições presidenciais simuladas, chamadas tecnicamente de pesquisas de opinião, o não voto registra ótimo desempenho, somando algo como um terço do eleitorado. Em agosto do ano passado, a eleição do governo-tampão do Amazonas indicou que a aversão à política não decorre um quadro estatístico mal-interpretado. Entre os amazonenses, a abstenção, os votos brancos e nulos somaram 43% do eleitorado. O resultado das urnas do Tocantins, abertas neste domingo, aponta para uma consolidação do fenômeno. Com 52%, o não voto prevaleceu na disputa pela poltrona de governador.
No Amazonas, o cacique Amazonino Mendes, hoje na tribo do PDT, tornou-se governador pela quarta vez com 782.933 votos. Uma marca bem inferior à quantidade de títulos eleitorais que preferiram ficar em casa ou desperdiçar o voto: 1.016.635 eleitores. No Tocantins, o governador interino Mauro Carlesse, do nanico PHS, foi efetivado no cargo por pouco mais de mais de 368 mil eleitores. Ali, a turma do não votos juntou mais de 520 mil eleitores com o nariz retorcido.
Não são negligenciáveis as chances de a experiência se repetir em outubro, quando a sucessão presidencial evoluirá da simulação das pesquisas para o teste independente das urnas. A menos que algum partido consiga criar o presidenciável perfeito a partir de um processo de fusão a frio, a hipótese de o não voto virar uma vedete também na temporada eleitoral de 2018 é assustadoramente real. Disso pode resultar a escolha de um novo presidente com baixa legitimidade.
Se os resultados do Tocantins e do Amazonas indicam alguma coisa é que o eleitorado brasileiro começa a evoluir da indignação para o sonambulismo. Se esse processo for levado às últimas consequências, o que parece um protesto tende a se converter em omissão. Além de acomodar outro presidente precário no Planalto, as estruturas mais carcomidas e tradicionais da política elegerão o rebotalho para o Congresso, para os governos estaduais e para as assembleias legislativas.
Como se sabe, um progresso que produza desenvolvimento equânime e distribuição igualitária dos resultados não costuma cair do céu, por benemerência da oligarquia política e empresarial. No limite, as eleições existem para que o povo dê uma lição nos seus pseudo-representantes. Se não acordarem, os sonâmbulos desperdiçarão mais uma oportunidade de educar na marra os aproveitadores. Uma pena.
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