Falta uma criança no time que assessora Temer. Por Josias de Souza

Por Maurílio Júnior

Michel Temer sabe que um governante não deve brincar com a impopularidade. Quando Dilma Rousseff balançava no trono, ele declarou: ”Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo” de 7% de aprovação. Hoje, aprovado por apenas 6% da população, Temer vive trancado numa bolha de fantasia. Divide a bolha com o marqueteiro Elsinho Mouco, os amigos Moreira Franco e Eliseu Padilha, além de meia dúzia de áulicos. Juntos, desligaram-se da realidade.

Um presidente a oito meses do fim do mandato, com a imagem estilhaçada, às voltas com o derretimento de sua base parlamentar, sentindo o hálito quente da Polícia Federal na nuca… um presidente assim fabrica vexames a partir do nada. Costuma-se dizer que errar é humano. Mas escolher o erro, planejar o erro, discutir o erro minuciosamente com a equipe antes de cometê-lo, só mesmo Temer.

Na semana passada, a turma da bolha aconselhara Temer a sair do gabinete. Ele deveria circular, viajar mais, ver e ser visto. Neste 1º de Maio, de folga em São Paulo, o presidente foi aconselhado a exibir seu instinto de solidariedade para os desabrigados do prédio que desabou em chamas no centro de São Paulo. Tudo deu errado. A hostilidade, os xingamentos, os gritos de “golpista”, os tapas na lataria do carro oficial… Tudo.

Amplificado no noticiário, o vexame sobreviverá nas redes sociais como um aviso sobre os perigos a que estão submetidos os habitantes do país da bolha. Temer talvez devesse aproveitar a ocasião para incorporar uma criancinha à sua equipe de assessores —alguém com mais de cinco anos e menos de dez, com lucidez suficiente para identificar a diferença entre fantasia e realidade.

Sempre que a realidade deixasse de existir, restando apenas a fantasia, a criancinha arrastaria o presidente de volta para o mundo real. Se Temer tivesse consultado Michelzinho sobre a ideia de levar sua impopularidade para passear no centro de São Paulo, o menino decerto perguntaria: “Ficou maluco, papai?”

E os apologistas de Temer, contaminados pelo discernimento de uma criancinha, concluiriam que é melhor o presidente permanecer na bolha. Não resolve o problema da impopularidade. Ao contrário, pode até agravá-lo. Mas facilita a vida dos seguranças.

UOL